23.8.10

Apenas um Curumim

Sexta-feira, 20 de agosto, fim de noite.
Eu em meio ao furacão que passou em minha vida neste dia (este é assunto para outro post), entrei no orkut a pedido de minha mãe para ver umas fotos (o que eu não queria, naquele momento).
Só que me deparo com alguns recados de uma ex-professora minha, Valéria.
Valéria foi minha professora de história, a melhor professora que já tive em todos os tempos.
O diferencial dela para tanta outras dezenas de professoras (es) que já tive é o amor ao lecionar.
É possível ver paixão em seus olhos, na maneira de falar. Toda aula dela era algo visceral, único.
Ela conseguia prender a atenção de toda a turma, era possível ouvir o som de uma agulha caindo ao chão.
E não pensa que o nosso silêncio ou respeito era por conta de medo ou repressão, era por amor ao ouvir aquela mulher falar com tanto entusiasmo seja qual for o assunto.
História do Brasil, história antiga, Egito, faraós... Tudo era mágico ao som de sua voz.
Enfim, vi seu recado em meu mural:
- Curumim, eu vou refazer sua peça depois de 20 anos, quer assistir?
Quantos pensamentos me vieram à cabeça, apenas com este recado.
E tinha mais outro.
- Curumim, quer ver sua peça favorita, me dê um retorno.
É a semana tinha sido muito difícil e puxada, natural não ter entrando no Orkut.
E por fim, um último recado:
- Curumim, é meu último recado, estou te aguardando, a peça é amanhã... (ou algo bem parecido com isso)
Bom, o amanhã já poderia ter passado, poderia ser tarde, mandei uma resposta, mas graças a Deus não foi tarde.
Bom, a peça em questão era "Apenas um Curumim" de Werner Zotz.
Livro infanto juvenil de 1979, o qual eu tive conhecimento em 1990, nas aulas da Valéria.
Do livro, criamos a primeira peça do título e tinha eu no papel de Curumim.
Sim, fui o primeiro Curumim há 20 anos.
Nunca tinha me dado conta de tantos anos que passaram da peça até hoje. Mas a ficha me caiu, e vi que o Curumim já tava bem crescidinho.
No sábado, eu e Valéria conversamos ao telefone, marcamos o local e horário e aí veio uma surpresa. Ela me disse bem animada.
- Jean, eu vou ficar te aguardando. Venha, pois tem uma pontinha na peça pra você e o elenco não sabe, é surpresa.
Caraca, eu e toda minha timidez por um momento, quase nos escondemos embaixo da cama. Mas se é para encarar, vamos lá, se for pra pagar algum mico no caminho, estamos aí.
Quando cheguei ao local, vi a professora Valéria, o que pra mim já tinha ganhado o dia. Ela me deu a fala e a hora que iria entrar, mas tudo muito em segredo, pois o elenco não podia saber.
Quando vi o elenco, lembrei de mim há 20 anos.
Todos com 11 ou 12 anos, cursando a 6° série do ensino fundamental.
Enquanto via a peça, lembrava da minha turma. Lembrava de quanto foi bom faze aquela peça e apresentar no pátio do colégio para toda a escola.
Lembrei das dificuldades, do texto, do cenário, dos detalhes.
A história da peça é basicamente a luta entre o Caraíba (homem branco) e os índios.
Mostra o Pajé (Tamãi) ensinando o jovem Curumim a sobreviver e transformá-lo em guerreiro sem perder a raiz indígena. (Legal ler o livro)
E a minha hora estava chegando de entrar na peça novamente.
Ao final da peça o pequeno Curumim já crescido, guerreiro diz:
- Eu, Novo Pajé digo: Vamos salvar o povo irmão, Vamos salvar o Planeta.
E neste momento eu, do meio da platéia levantei, abri meus braços em direção a eles e disse:
- Eu, Jean, Curumim há 20 anos digo: É possível salvar o povo irmão, é possível salvar o Planeta.
A cara de susto de cada um deles foi incrível, depois eles entenderam e eu subi ao palco com eles.
Todos, inclusive eu, estamos muito felizes.
Foi tudo muito mágico e único. Sentia-me como uma criança no meio deles e o melhor. Estava novamente no palco. Foi maravilhoso.
Fiz uma carta de agradecimento a eles e a Valéria e espero que cheguem a eles durante as mágicas aulas da professora Valéria.
E eu, estou aqui para mais alguma participação ou para fazer a peça novamente.
Não como Curumim, pois, Curumim de 30 anos, gordo e barbado, não dá.
Mas um Caraíba ou o Pajé, queria muito fazer!
Quero terminar, citando uma frase do Pajé na peça:

"Caraíbas têm cabeça oca. Deviam ter aprendido muitas lições com o povo filho da terra e não souberam enxergar, nem ouvir, nem sentir. E SOFRERÃO POR ISSO".

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